Conheça aqui o poema que Vasco Graça Moura dedicou ao Elevador de Santa Justa, em Lisboa, bem como a obra do artista Joaquim Canotilho que também faz jus a este ex-libris.
podes caber à larga e não à justa no elevador de santa justa,
não te leva a parte nenhuma no sentido utilitário normal,
mas é a nossa torre eiffel. faz a experiência. por sinal
é um caso em que não custa aprender à nossa custa:
variamente na vida e na ascese se flibusta,
e aprender à nossa custa é muito mais ascensional.
podes subir ao miradouro se a altura não te assusta:
lisboa é cor de rosa e branco, o céu azul ferrete é tridimensional,
podes subir sozinho, há muito espaço experimental.
noutros elevadores há sempre alguém que barafusta,
mas não aqui: não fica muito longe a rua augusta,
e em lisboa é o único a subir na vertical.
no tejo há a barcaça, a caravela, a nau, o cacilheiro, a fusta,
luzindo à noite numa memória intensa e desigual.
com o cesário dorme a última varina, a mais robusta.
não é para desoras o elevador de santa justa,
arrefece-lhe o esqueleto de metal,
mas tens o dia todo à luz do dia. não faz mal.
Vasco Graça Moura
Vasco Navarro da Graça Moura nasceu no Porto, em janeiro de 1942 foi um escritor, tradutor e político português.
Faleceu em Lisboa, em 27 de Abril de 2014.
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